Após morte de liderança, indígenas fazem ato por segurança na Reserva de Dourados

Por Adriano Moretto

Indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru, na Reserva Indígena de Dourados, realizaram protesto na tarde desta segunda-feira (8/9) para cobrar mais segurança por parte do poder público. 

O ato ocorreu próximo a rotatória da MS-156, um dia depois de confirmada a morte de Idalino Rossati Medina, liderança local assassinado com golpes de faca após confusão em um bar localizado na parte alta da Avenida Presidente Vargas.  

Durante as atividades, populares pediram mais policiamento e a construção de um posto policial para atender as demandas da região, onde habitam em torno de 13 mil pessoas. 

Para o capitão Ramão Fernandes, 66, liderança da Aldeia Jaguapiru, faltam rondas pelo local nos fins de semana e, quando ocorre, é de forma rápida.

Ramão Fernandes falou sobre a falta de segurança nas aldeias de Dourados – Foto: Clara Medeiros/Dourados News

“É bem preocupante para a comunidade [a falta de segurança]. A gente não tem segurança aqui aos fins de semana. Tem [policiamento]? Tem! Mas é aquela viatura com dois policiais. Então eles vêm aqui, não descem do carro para falar com o pessoal”, disse. 

Conforme relatado pelo capitão, atualmente são as lideranças indígenas que fazem a ‘linha de frente’ dentro da Reserva. 

“Quem tem que fazer a frente somos nós. E nós não temos segurança. Não podemos usar arma, nem algema”, contou.

Após o ato, as lideranças locais pretendem buscar auxílio da Defensoria Pública e também da segurança pública. 

A ideia é mostrar a necessidade da implantação de um posto policial na comunidade. “Porque desassistido nós não podemos ficar, de maneira alguma (…). De agora para frente, a gente vai tomar as providências de correr atrás desse procedimento da segurança”, contou.

Inicialmente o protesto não prevê outras medidas como fechamento de rodovias, por exemplo. Porém, caso nada mude, eles não descartam tal situação. 

Irmã pede Justiça

Irmã de Idalino espera Justiça pelo crime – Foto: Clara Medeiros/Dourados News

Também presente no ato, a irmã de Idalino, Sandra Rosatti Medina, 38, pediu por Justiça e mais agilidade nas investigações. 

Ao Dourados News, ela relatou que na noite da briga que terminou com a morte da liderança indígena, foi avisada sobre o caso e encontrou o irmão bastante ferido dentro da viatura do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Neste momento, a mulher disse que ele citou os nomes dos suspeitos pelo crime. 

“Cheguei lá e ele já estava dentro da ambulância. Deu tempo dele falar pra mim o nome. Eu não quis acompanhar no hospital porque eu vi o sangue muito forte, eu não aguentava mais ver o sangue derramando dele. Então ele me falou os nomes e o que eu peço agora, é justiça”, citou.

Sandra ainda questiona os rumos dos suspeitos pela morte de Idalino e que já sofreu ameaças dos suspeitos pela morte do irmão. 

“Eles estão impunes. Até quando mais? Eu chego no hospital, ele [suspeito pelo crime] ainda me ameaça. Ele falou pra mim assim: “Eu não tenho medo!”. Isso mexeu muito comigo, porque eu sou uma mulher que trabalha, sou mãe. E é preocupante isso, né, a gente enfrentar essas violências todas aqui dentro”, relatou.

Dourados News entrou em contato com a assessoria de imprensa da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) para um posicionamento sobre o caso. 

Através de nota, foi informado que a pasta mantém ações permanentes voltadas ao fortalecimento da segurança nas aldeias de Dourados. 

“Duas comunidades já contam com conselhos de segurança indígena implantados – nas aldeias Jaguapiru e Bororó – que aproximam a polícia da população local. Recentemente, o Conselho da Aldeia Bororó recebeu um veículo para apoiar as atividades”, inicia a Sejusp.

A Secretaria ainda relata a existência do Promulse nas aldeias para combater a violência de gênero e cita que o município foi contemplado pelo programa MS em Ação, levando serviços às comunidades. 

“Outro destaque é o Promuse Indígena, iniciativa que combate a violência de gênero e fortalece a proteção das mulheres indígenas por meio da criação de vínculos de confiança entre as forças policiais e as comunidades. O município também foi contemplado pelo programa MS em Ação, que levou diversos serviços gratuitos às aldeias, como emissão de documentos, atendimentos médicos e odontológicos, oficinas, palestras e outras atividades de cidadania”.

E encerra a nota: “Além dessas medidas, o policiamento ostensivo é realizado de forma contínua pelo 3º Batalhão de Polícia Militar de Dourados (3º BPM), que mantém ações específicas nas aldeias, como o policiamento comunitário indígena e o reforço da Força Tática no local, garantindo presença constante e contribuindo para a manutenção da ordem pública e da segurança de todos”.

O crime

Confusão que terminou com a morte de indígena aconteceu na noite de sábado – Foto: Reprodução

Idalino Rossati Medina foi esfaqueado na noite de sábado em um bar localizado na Avenida Presidente Vargas, próximo a Reserva Indígena de Dourados.

Ele chegou a ser encaminhado ao Hospital Evangélico, mas morreu horas depois, na madrugada de domingo (7/9). 

Testemunhas que estavam no local afirmaram que ele havia iniciado uma discussão com a mulher e posteriormente brigou com o autor, sofrendo golpes que atingiram cabeça e abdômen. 

Apesar dos relatos, lideranças indígenas disseram que não houve briga. 

Conforme relatado ao Dourados News, Idalino chegou ao estabelecimento para comprar bebida e ao sair, foi segurado pela mulher e logo depois esfaqueado pelo autor. 

Nesta segunda-feira, homem e mulher se apresentaram na sede do SIG (Setor de Investigações Gerais) da Polícia Civil acompanhados de advogados para prestarem depoimento sobre o caso, que segue em investigação. 

*Colaborou Clara Medeiros

Dupla se apresentou nesta manhã na sede do SIG – Foto: Osvaldo Duarte/Dourados News

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